Conversas secretas entre EUA, Rússia e Ucrânia nos Emirados dão novo fôlego a um possível acordo de paz, mas ataques sobre Kiev lembram fragilidade do processo.
Um possível acordo de paz na Ucrânia volta a ganhar impulso, com um novo plano em 19 pontos em cima da mesa e conversas discretas em Abu Dhabi. Fontes oficiais admitem “progresso tremendo”, mas sublinham que o acordo de paz na Ucrânia ainda depende de decisões políticas ao mais alto nível. Ao mesmo tempo, novos ataques russos sobre Kiev mostram que a guerra continua longe de estar terminada.
As últimas horas trouxeram sinais de movimento num dossiê que parecia bloqueado: o de um possível acordo para pôr fim à guerra na Ucrânia. De acordo com várias fontes diplomáticas, os Estados Unidos, a Rússia e uma delegação ucraniana estão envolvidos em conversas discretas em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, com base num novo quadro negocial de 19 pontos.
Este plano de 19 pontos resulta da redução de uma proposta inicial com 28 pontos apresentada por Washington a Kiev, durante encontros em Genebra, no último fim de semana. Entre as alterações conhecidas, foram retiradas referências a limites ao tamanho futuro das Forças Armadas ucranianas e a eventuais amnistias abrangentes por crimes cometidos durante o conflito.
Segundo um responsável norte-americano citado pela ABC News, a delegação ucraniana já terá concordado com a essência deste novo quadro, embora “persistam alguns detalhes menores” por fechar. Kiev, no entanto, ainda não confirmou publicamente que tenha aceite formalmente o plano, sublinhando que as questões mais sensíveis – como território ocupado e garantias de segurança – terão de ser tratadas ao nível presidencial.
No centro destas conversas está o secretário do Exército dos EUA, Dan Driscoll, figura improvável para liderar um esforço diplomático, mas que tem assumido um papel crescente na tentativa de Washington de destravar o processo de paz. Driscoll deslocou-se primeiro à Ucrânia, depois participou nas negociações em Genebra e, finalmente, seguiu para Abu Dhabi, onde se reuniu com uma delegação russa. Em paralelo, o chefe da inteligência militar ucraniana, Kyrylo Budanov, também se encontra na capital dos Emirados, em contactos com os dois lados.
Fontes citadas pela Reuters e por outros meios internacionais falam em “progresso tremendo” ao longo da última semana, com a maior parte dos pontos da proposta inicial já consensualizados entre Washington e Kiev. As questões em aberto incluem a forma de tratar o futuro estatuto dos territórios ocupados pela Rússia e o tipo de garantias de segurança que a Ucrânia poderá receber, num contexto em que a adesão à NATO continua a ser um tema sensível para Moscovo.
Apesar do otimismo cauteloso em torno das conversas em Abu Dhabi, a realidade no terreno permanece dura. Nas últimas horas, a Rússia lançou um novo ataque de mísseis e drones contra Kiev e outras cidades ucranianas, causando mortos, dezenas de feridos e danos significativos em infraestruturas energéticas. As autoridades ucranianas lembram que qualquer processo de paz terá de avançar em paralelo com a manutenção do apoio militar ocidental e com sanções contínuas a Moscovo
Do lado russo, as reações oficiais têm sido prudentes, com o Kremlin a falar em “frenesim de informação” e a evitar comentar em detalhe o conteúdo das propostas. Analistas alertam que, mesmo com um texto de 19 pontos praticamente fechado entre Washington e Kiev, qualquer acordo de paz na Ucrânia dependerá da capacidade de Moscovo e de Kiev aceitarem compromissos dolorosos perante sociedades fatigadas por quase três anos de guerra.
Por agora, Abu Dhabi torna-se mais um palco discreto da diplomacia de bastidores que tenta, longe dos holofotes públicos, encontrar uma saída política para um conflito que tem redefinido o equilíbrio de segurança na Europa.
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Fonte oficial:
• Reuters