Sessão solene dos 50 anos do 25 de Novembro fica marcada por rosas brancas, cravos vermelhos e divergências sobre o significado político da data
As comemorações dos 50 anos do 25 de Novembro trouxeram ao Parlamento uma sessão solene tão simbólica como tensa. A efeméride do 25 de Novembro, agora celebrada em paridade com o 25 de Abril, voltou a dividir direita e esquerda sobre o significado político da data. Entre rosas brancas, cravos vermelhos e discursos inflamados, o 25 de Novembro voltou a mostrar que a memória da Revolução continua em disputa.
O Parlamento assinalou esta terça-feira, 25 de novembro de 2025, os 50 anos do 25 de Novembro com uma sessão solene idêntica à do cinquentenário do 25 de Abril, decisão tomada em 2024 após proposta de partidos à direita do PS. A cerimónia contou com intervenções do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, bem como a presença do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e de diversas entidades civis e militares.
À direita, PSD, Chega, CDS-PP e Iniciativa Liberal sublinharam o 25 de Novembro como a data que travou a deriva radical do PREC e permitiu a consolidação da democracia representativa. À esquerda, PS, BE, PCP e Livre insistiram que o 25 de Abril é a “data fundadora” da liberdade, avisando que não pode ser colocado em pé de igualdade com o 25 de Novembro, que consideram parte, e não contraponto, do processo revolucionário iniciado em 1974.
O ambiente ficou particularmente tenso quando André Ventura, líder do Chega, subiu ao púlpito e retirou os cravos vermelhos colocados pela esquerda, em resposta à decoração oficial da sala com rosas brancas. O gesto levou vários deputados do PS a abandonar o hemiciclo, num momento que simbolizou a “guerra” de memórias e símbolos em torno da efeméride. Mais tarde, deputados do PSD voltariam a colocar cravos no púlpito, defendendo que a data deve ser “de todos”.
Nas intervenções políticas, o PS acusou o Governo de instrumentalizar “de forma ilegítima” o 25 de Novembro e de se subordinar “à extrema-direita saudosista”, enquanto o restante espaço à esquerda criticou o que considera ser uma tentativa de reescrever a história, desvalorizando o 25 de Abril. O PCP recusou estar presente na sessão solene, argumentando que “não compactua com a operação em curso” para menorizar o 25 de Abril e transformar o 25 de Novembro “naquilo que não foi”.
No seu último discurso no Parlamento enquanto Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa fez apelo ao equilíbrio e à “temperança”, evocando uma carta de D. Pedro para lembrar a importância da moderação na história portuguesa. Marcelo voltou a insistir que o 25 de Abril é a “data primeira”, mas sublinhou que “sem o 25 de Novembro não haveria Constituição”, procurando conciliar leituras opostas da história recente. Ramalho Eanes, principal rosto militar do 25 de Novembro e antigo chefe de Estado, foi várias vezes aplaudido de pé por deputados de todo o espectro político.
Fora do hemiciclo, as comemorações incluíram um desfile militar em Lisboa e o lançamento de uma emissão especial de selos dos CTT alusiva ao 25 de Novembro. Cinquenta anos depois, a data continua a ser apresentada por uns como o momento em que se salvou a democracia e, por outros, como um episódio que não pode servir para ofuscar as conquistas de Abril. O cinquentenário confirmou assim que o 25 de Novembro permanece um campo de batalha simbólico sobre a memória da Revolução.
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Fonte oficial:
• RTP – Parlamento assinala 50 anos do 25 de Novembro em sessão igual ao 25 de Abril