Antibióticos em Portugal crescem 8% e superam média da UE

Consumo sobe quatro vezes mais do que na União Europeia entre 2019 e 2024, com Portugal a manter-se acima da média europeia e sob alerta das autoridades de saúde.

O consumo de antibióticos em Portugal voltou a aumentar e já ultrapassa a média europeia. Segundo dados divulgados no Dia Europeu do Antibiótico, o consumo de antibióticos em Portugal cresceu 8% entre 2019 e 2024, quatro vezes mais do que a média de 2% registada na União Europeia.

Estes números reforçam as preocupações sobre o uso de antibióticos em Portugal e o risco crescente de resistência bacteriana associada ao seu consumo excessivo e desadequado.

De acordo com dados da rede europeia de vigilância de consumos de antimicrobianos (ESAC-Net), publicados pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) e citados pelo Infarmed, o consumo global de antibióticos em Portugal aumentou 8% entre 2019 e 2024, enquanto a média da União Europeia se ficou pelos 2%.

Nas farmácias comunitárias, a dispensa de antibióticos passou de uma média de 18 doses diárias definidas por 1.000 habitantes (DHD) em 2023 para 19 DHD em 2024. Este indicador significa que, em cada dia, são consumidas em média 19 doses de antibiótico por cada mil habitantes. Dados preliminares do primeiro semestre de 2025 apontam para uma ligeira descida para 18,8 DHD, mas ainda assim acima dos valores anteriores à pandemia.

Em números absolutos, foram dispensadas cerca de 7,96 milhões de embalagens de antibióticos em 2022, 8,68 milhões em 2023 e 9,44 milhões em 2024, o que representa um aumento acumulado de quase 19% em apenas dois anos. Até outubro de 2025, já tinham sido dispensadas mais de 7,1 milhões de embalagens, com a procura a concentrar-se sobretudo nos meses de inverno, entre dezembro e março, período em que disparam as infeções respiratórias.

Também nos cuidados de saúde hospitalares se observa um acréscimo. O consumo de antibióticos em meio hospitalar passou de 1,7 DHD em 2023 para 1,8 DHD em 2024, valor que se mantém em 2025 segundo os dados preliminares. Entre os antibióticos de maior preocupação destacam-se as quinolonas e os carbapenemes, associados a maior risco de seleção de bactérias multirresistentes.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a resistência aos antibióticos está associada a cerca de 1,27 milhões de mortes diretas por ano em todo o mundo e contribui para mais de 4 milhões de óbitos adicionais, tornando-se uma das principais ameaças à saúde global neste século.

No plano europeu, o Conselho da União Europeia definiu como meta reduzir em 20% o consumo total de antibióticos em humanos até 2030, tendo 2019 como ano de referência. Em Portugal, o objetivo traduz-se numa redução de cerca de 9% do consumo total em DHD até ao final da década. Os dados mais recentes mostram, porém, uma tendência oposta, com aumentos sucessivos desde 2019, o que reforça a necessidade de medidas mais firmes de uso racional dos antibióticos.

Infarmed, Direção-Geral da Saúde (DGS) e Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge sublinham que o “poder” dos antibióticos depende de todos. As autoridades insistem em recomendações já conhecidas: não utilizar antibióticos para tratar infeções virais como constipações ou gripe, evitar a automedicação, cumprir sempre a duração do tratamento prescrita e nunca partilhar antibióticos com outras pessoas. Campanhas recentes, como a lançada sob o mote “O poder dos antibióticos depende de todos nós”, apostam também nas crianças como mensageiras de boas práticas junto das famílias.

Apesar de alguns sinais tímidos de estabilização em 2025, Portugal continua acima da média europeia no consumo de antibióticos e com margem limitada para falhar as metas definidas para 2030. As autoridades defendem uma ação coordenada entre profissionais de saúde, decisores políticos e cidadãos para travar o avanço da resistência antimicrobiana e preservar a eficácia destes medicamentos essenciais para as próximas gerações.

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Fonte oficial:
Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento