Escutas com António Costa invalidadas, decisões da Relação desconhecidas pelo MP e arguidos à espera de respostas mantêm o caso Influencer num limbo judicial em 2025.
O caso Influencer continua sem desfecho claro, dois anos após as buscas que levaram à queda do Governo de António Costa. Nos últimos meses, o caso Influencer voltou ao centro do debate público devido a escutas invalidadas, decisões judiciais desconhecidas pelo Ministério Público e críticas à atuação da Procuradoria-Geral da República. O dossiê mantém-se em aberto e prolonga o desgaste da confiança na justiça portuguesa.
Quase dois anos depois das buscas de 7 de novembro de 2023, a Operação Influencer permanece num ponto morto aparentemente difícil de desbloquear. O processo, que investiga alegados favorecimentos em negócios de lítio, hidrogénio verde e um centro de dados em Sines, já derrubou um Governo, mas continua sem acusação formal ou arquivamento, apesar das sucessivas garantias de que a prova é “extensa e complexa”.
Um dos desenvolvimentos mais sensíveis prende-se com 22 escutas telefónicas em que António Costa surge como interlocutor, realizadas entre 2020 e 2022. Só em outubro de 2025 essas gravações foram enviadas para o Supremo Tribunal de Justiça, que, tal como o Tribunal Central de Instrução Criminal, considerou já não ter competência para as validar, uma vez que o antigo primeiro-ministro deixou de ter foro especial. Resultado: essas escutas não podem ser usadas como prova, o que, na prática, encerra a vertente do caso que diretamente o envolvia.
Em paralelo, veio a público que um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, relativo ao acesso a emails apreendidos a advogados, já tinha sido proferido em sentido favorável às defesas — mas não era conhecido nem pelos magistrados do DCIAP, nem pelo próprio Procurador-Geral da República, Amadeu Guerra, quando este afirmou publicamente que ainda existia um recurso pendente. A revelação levou a críticas duras à coordenação do Ministério Público e à forma como está a ser conduzido o caso Influencer, com figuras como Ferro Rodrigues a falar em cenário “kafkiano”.
Perante as críticas, a Procuradoria-Geral da República reiterou que o processo continua em inquérito e que a prova recolhida é volumosa, exigindo tempo para ser devidamente analisada. Amadeu Guerra afastou a ideia de uma decisão ainda antes do Natal, confirmando que não haverá uma conclusão rápida sobre acusações ou arquivamentos. Assim, o caso Influencer prolonga-se no tempo, sem calendário claro para a sua resolução.
Do lado económico, a StartCampus, empresa responsável pelo megaprojeto do centro de dados de Sines e arguida no processo, considera que o ritmo da justiça não prejudicou o avanço do investimento. À margem da Web Summit, um responsável da empresa afirmou que os prazos da justiça têm sido “adequados” e que o licenciamento e a implementação do projeto continuam em curso, sinalizando um descolamento entre o andamento processual e a realidade económica no terreno.
Também na frente processual continuam decisões com impacto direto nos protagonistas. O juiz recusou devolver a caução de 75 mil euros a Vítor Escária, antigo chefe de gabinete de António Costa, mantendo a medida de coação. A defesa do atual presidente do Conselho Europeu criticou ainda declarações “pouco claras” do Procurador-Geral, entendendo que contribuem para uma perceção pública de culpa sem que exista acusação. No conjunto, os mais recentes desenvolvimentos do caso Influencer reforçam a ideia de um processo politicamente devastador, juridicamente enredado e ainda longe de um ponto final.
Veja também:
• Eleições presidenciais 2026 marcadas para 18 de janeiro
• Reforma laboral: Governo recua nas férias mas mantém banco de horas
Fonte oficial:
• Procuradoria-Geral da República