Crise EUA–Venezuela: Trump fecha totalmente espaço aéreo em 2025

Escalada entre Washington e Caracas faz soar alarmes em capitais de todo o mundo, com analistas a falar no risco de primeira guerra na América do Sul desde as Malvinas.

A crise EUA–Venezuela entrou hoje numa nova fase depois de Donald Trump declarar o espaço aéreo venezuelano “totalmente fechado”, justificando a medida com o combate ao narcotráfico. Caracas reagiu com furor diplomático, fala em “ameaça colonialista” e pede a intervenção urgente do regulador mundial da aviação civil. Para vários analistas, a crise EUA–Venezuela já é vista como o mais sério potencial detonador de um conflito armado na região em décadas.

Escalada começa com mensagem de Trump e grande operação militar

No sábado, o Presidente norte-americano publicou na sua rede Truth Social um aviso dirigido a “todas as companhias aéreas, pilotos, narcotraficantes e traficantes de pessoas”, pedindo que considerem o espaço aéreo sobre e em redor da Venezuela “fechado na sua totalidade”. A mensagem surgiu após meses de reforço militar dos EUA no Caribe, descrito por Washington como uma operação antidroga, mas visto em Caracas como o prelúdio de uma campanha para derrubar Nicolás Maduro.

O Pentágono deslocou para a região um porta-aviões, destróieres lança-mísseis e milhares de militares, na maior concentração de meios norte-americanos no Caribe em décadas. Em paralelo, multiplicaram-se ataques contra embarcações suspeitas de transporte de cocaína, no âmbito de uma operação que já é criticada por alegadas execuções extrajudiciais em alto-mar.

Caracas fala em “ameaça colonialista” e apela à aviação civil mundial

O governo venezuelano respondeu com dureza, acusando Trump de lançar uma “ameaça colonialista” que viola a soberania do país e o direito internacional. Em comunicados sucessivos, a diplomacia de Maduro pediu à Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) que condene a posição norte-americana e defendeu que nenhum Estado pode, unilateralmente, “fechar” o espaço aéreo de outro país.

Apesar da retórica, o principal aeroporto de Caracas continuou a operar, com voos domésticos e internacionais a manterem-se, incluindo ligações comerciais e um programa de repatriamento de migrantes a partir dos Estados Unidos. Foi precisamente um destes voos, com mais de 170 deportados a bordo, que levou autoridades venezuelanas a acusar Washington de “duplo critério”: por um lado fala em risco extremo no espaço aéreo, por outro mantém aeronaves norte-americanas a aterrar e descolar em segurança.

Vizinhos em alerta e alertas de ilegalidade

Na região, a declaração de Trump gerou um coro de críticas. O Presidente colombiano Gustavo Petro classificou o alegado fecho do espaço aéreo venezuelano como “completamente ilegal” e pediu uma reunião urgente da OACI, alertando para o precedente perigoso que a medida representa para a aviação mundial. Cuba, por seu lado, denunciou “interferência persistente” dos EUA e um destacamento militar “ofensivo e extraordinário” no Caribe.

Também partidos de esquerda no Brasil e noutros países sul-americanos manifestaram “profunda preocupação” com a escalada, acusando Washington de usar o combate ao narcotráfico como pretexto para uma mudança de regime em Caracas. Governos da União Europeia e de organizações regionais apelaram à moderação, sublinhando que qualquer operação militar teria impactos imprevisíveis na segurança, nas migrações e na economia de toda a América Latina.

Rússia, China e o fantasma de uma guerra pós-Malvinas

O dossiê deixou de ser apenas um braço-de-ferro bilateral. Moscovo e Pequim, principais aliados de Maduro, já alertaram publicamente para o que consideram ser uma “ameaça colonial” e pediram que os EUA regressem ao respeito pelo direito internacional e pela Carta das Nações Unidas.

Segundo uma análise publicada pelo Diário de Notícias, a conjugação de retórica incendária, manobras militares de grande escala e posições endurecidas de potências nucleares faz com que alguns observadores falem já na possibilidade de a crise EUA–Venezuela se transformar na primeira guerra na América do Sul desde o conflito das Malvinas, em 1982. O cenário mais temido é o de um ataque “cirúrgico” norte-americano contra alvos ligados ao narcotráfico, que acabe por provocar uma resposta militar venezuelana e arraste aliados regionais para o confronto.

Entre a diplomacia de emergência e o risco de erro de cálculo

Para já, não há declaração formal de guerra nem ordens de intervenção terrestre, e fontes diplomáticas sublinham que se mantêm canais de comunicação discretos entre Caracas e Washington. Maduro revelou mesmo ter mantido uma conversa telefónica “respeitosa e cordial” com Trump nas últimas horas, embora sem avanços concretos.

Organizações como a CELAC, a ONU e mediadores europeus tentam construir uma saída diplomática que passe por mecanismos de verificação no combate ao narcotráfico, em troca de garantias de não-agressão à Venezuela. Mas, com aviões militares, navios de guerra e discursos cada vez mais duros de ambos os lados, o receio generalizado é o de que um simples erro de cálculo possa precipitar uma escalada fora de controlo.

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Fonte oficial:
Diário de Notícias – “EUA x Venezuela podem travar primeira guerra na América do Sul pós-Malvinas?”