Matérias-primas críticas: UE avança com plano para cortar dependência da China

Bruxelas acelera diversificação, reciclagem e parcerias para reduzir risco nas cadeias de fornecimento

A UE anunciou um novo plano para reduzir a dependência da China em matérias-primas críticas, com enfoque em terras raras e ímanes permanentes essenciais para a transição energética e a indústria europeia. O anúncio foi feito após Pequim ter ampliado os controlos às exportações, elevando a urgência de diversificar origens, reforçar a reciclagem e criar reservas estratégicas.

Na sua intervenção de sábado, 25 de outubro, Ursula von der Leyen sublinhou que Bruxelas “está a trabalhar num plano” para cortar a exposição europeia a restrições externas e proteger setores como automóvel, defesa e eletrónica. A estratégia articula-se com o já em vigor Critical Raw Materials Act (CRMA), que fixa metas de extração, processamento e reciclagem na UE até 2030.

A UE tem vindo, desde 2024, a aprovar projetos estratégicos e a alinhar instrumentos financeiros e regulatórios para reduzir riscos de fornecimento. O novo impulso político surge na sequência das novas licenças de exportação chinesas (9 de outubro) para vários elementos de terras raras e materiais associados, medida que acentuou as vulnerabilidades europeias e acelerou o calendário de resposta.

A proposta agora avançada por Bruxelas visa três eixos operacionais:

  • Diversificação externa: acordos com parceiros “fiáveis” (como Canadá e Austrália), reforçando cadeias “friend-shored” e contratos de longo prazo para garantir volumes e preços previsíveis.
  • Capacidades internas: estímulos à reciclagem de ímanes e terras raras dentro do bloco, com metas compatíveis com o CRMA (10% extração, 40% processamento e 25% reciclagem até 2030), investimento em refinação e apoio a projetos com licenciamento acelerado.
  • Resiliência e reservas: exploração de stockpiles (físicos e “virtuais”), leilões conjuntos e compras agregadas quando necessário, reduzindo choques de curto prazo.

Segundo fontes europeias, o plano responde diretamente à expansão dos controlos de exportação chineses a novos elementos de terras raras, como hólmio, érbio e térbio, usados em motores elétricos, turbinas eólicas e sistemas de guiamento. Para a UE, a medida expõe riscos sistémicos ao emprego industrial e à competitividade tecnológica do bloco.

No plano geopolítico, Bruxelas pretende articular a resposta com parceiros do G7 e utilizar, se necessário, instrumentos de política comercial para prevenir coerção económica. Em paralelo, a Comissão vincula a agenda de matérias-primas ao Clean Industrial Deal e à criação de mercados-líder para tecnologias limpas fabricadas na Europa.

O setor privado acompanha com atenção: associações industriais já tinham alertado para falhas de entrega e prazos mais longos em componentes magnéticos, pressionando a UE a acelerar medidas estruturais. Para os próximos meses, espera-se a apresentação de medidas legislativas e financeiras que operacionalizam a estratégia, da reciclagem avançada à diplomacia de matérias-primas.

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Fonte oficial:
Comissão Europeia — Critical Raw Materials Act