Hospitais: metade dos portugueses vive a mais de 15 minutos

Estudo europeu coloca Portugal ao nível da Roménia e da Hungria no acesso às urgências, com grandes desigualdades entre litoral e interior.

Metade dos portugueses vive a mais de 15 minutos de um hospital, segundo um estudo europeu que analisa o tempo de deslocação até às urgências. A nova radiografia da acessibilidade hospitalar coloca Portugal ao lado da Roménia e da Hungria no grupo de países onde chegar rápido a um serviço de urgência continua a ser um privilégio geográfico. O tema reacende o debate sobre o acesso ao SNS e a resposta pública nas regiões do interior.

A acessibilidade aos hospitais voltou ao centro do debate sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Um estudo europeu recente, com base em dados da Eurostat para 2023, conclui que cerca de metade da população portuguesa precisa de mais de 15 minutos de carro para chegar a um hospital, colocando o país ao nível da Roménia e da Hungria no tempo de deslocação até às urgências.

A mesma análise mostra que, no conjunto da União Europeia, 83,4% dos residentes vivem a menos de 15 minutos de um hospital, um valor que contrasta com a realidade portuguesa e expõe assimetrias profundas entre Estados-Membros. Entre as mais de mil regiões europeias estudadas, 91 têm menos de metade da população dentro desse limite de tempo — e sete dessas regiões ficam em Portugal, sobretudo em zonas rurais e de baixa densidade.

No terreno, isso traduz-se em histórias de doentes que percorrem dezenas de quilómetros até ao hospital mais próximo. Em Trás-os-Montes, há casos em que a viagem pode chegar a uma hora e meia, especialmente quando as estradas são sinuosas e as condições meteorológicas adversas. Investigadores que têm estudado o tema lembram que, apesar de algumas melhorias na rede viária e na organização hospitalar desde os anos 90, o tempo médio de deslocação até ao hospital continua elevado: um trabalho académico recente aponta para cerca de 25 minutos de condução em média, com piores resultados nos concelhos do interior envelhecido.

Os dados europeus também dialogam com estudos sobre o chamado modelo da “cidade de 15 minutos” em Portugal. Em algumas regiões do Norte, por exemplo, pouco mais de 74% da população consegue chegar a uma unidade hospitalar em menos de 15 minutos de carro, o que evidencia uma acessibilidade razoável em áreas urbanas, mas deixa grandes franjas do território de fora.

Especialistas em saúde pública alertam que estes tempos de viagem não são apenas um incómodo logístico. Em situações de urgência — AVC, enfarte, trauma grave — cada minuto conta e a distância até ao hospital pode fazer a diferença entre sobrevivência, incapacidade ou morte. Organismos europeus de segurança rodoviária lembram, por exemplo, que reduzir o tempo entre um acidente e a chegada de equipas de emergência de 25 para 15 minutos pode diminuir em cerca de um terço o número de mortes.

Em Portugal, o retrato agora divulgado reacende discussões antigas: a concentração de especialidades nos grandes centros urbanos, o fecho ou reconfiguração de urgências em hospitais de menor dimensão e a dificuldade em fixar médicos nas regiões do interior. Autarcas e utentes insistem que a reorganização do SNS não pode ignorar o critério da proximidade, sob pena de agravar desigualdades territoriais já bem identificadas nos relatórios europeus.

À medida que se discute o futuro do SNS, o estudo europeu funciona como um sinal de alarme: garantir que menos portugueses vivem a mais de 15 minutos de um hospital pode ser tão determinante como contratar mais profissionais ou investir em novas tecnologias. Para muitos doentes, a primeira barreira de acesso à saúde continua a ser, simplesmente, a estrada.

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Fonte oficial:
Eurostat — 83% of people live within a 15-minute drive of a hospital